Cinco dias, onze matérias e um julgamento


Eu tinha onze anos quando um crime envolto em mistério, ocorrido no dia 23 de junho de 1996, pôs Alagoas entre os destaques do noticiário nacional. Naquela época, há quase dezessete anos, nem de longe passava pela minha cabeça o que a segunda semana do mês de maio deste ano me reservava.

O que aconteceu a Suzana Marcolino e Paulo Cesar Farias é, sem dúvida, lamentável. E até hoje, mesmo após três perícias, uma investigação do Ministério Público e um inquérito policial, ainda não se sabe o que realmente houve naquele dia.

No entanto, no dia 6 de maio de 2013, um julgamento voltou a colocar o estado na mídia nacional. No banco dos réus, quatro seguranças que trabalhavam para PC Farias à época do crime. E eu, já com vinte e oito anos, fui escalado para acompanhar de perto, durante uma semana, o desenvolvimento da apreciação de um dos casos mais emblemáticos do país.


Com crachá, câmera, bloquinho e notebook em mãos, lá estava eu, representando o TNH1 e abrindo a cobertura in loco para um dos portais de maior influência em Alagoas. E em meio aos colegas da imprensa, vi a chegada das testemunhas e dos familiares das vítimas e dos réus, que optaram pelo silêncio antes do julgamento. Aliás, ainda no primeiro dia, escutei do promotor do caso, Marcos Mousinho, que o julgamento era o momento de se conhecer novas provas sobre o ocorrido.

No segundo dia, estive presente em dois dos depoimentos mais esperados. Primeiro, no de Augusto Farias, que disse ter sido chantageado pelos delegados do caso e, posteriormente, confirmou ter sido ele a pessoa que autorizou a limpeza da cena do crime. Na sequência, a empresária Claudia Dantas foi ouvida. Entre suas declarações, a que mais chamou a atenção foi a de que PC Farias teria dito a ela que iria terminar o namoro com Suzana Marcolino no fim de semana em que morreu.

No terceiro dia, mais revelações. Anna Luizza Marcolino disse ao juiz Maurício Brêda que a irmã revelou à mãe a impressão de estar sendo seguida dias antes da tragédia. Já os delegados do caso negaram ter feito chantagem e relataram ainda que Augusto Farias tentou suborná-los. E, logo em seguida, a primeira perita a chegar no local descartou que alguém tenha alterado a cena do crime.

No quarto dia, contrariando o laudo que indicava que houve homicídio seguido de suicídio, o perito Daniel Muñoz defendeu a tese de que Suzana foi assassinada. Sua explanação, inclusive, incomodou o advogado dos réus, José Fragoso, que tentou mostrar aos jurados que o profissional cometeu erros em seu trabalho. Comportamento este que foi repreendido pelo juiz. No entanto, na fase de debates, já no último dia, o advogado não poupou palavras. E, em um discurso emocionado, expôs uma série de argumentações e tentou provar que Suzana tinha perfil suicida, que os peritos manipularam resultados e que condenar os quatro réus seria uma injustiça.


No fim, todos os réus foram absolvidos e muitas lágrimas de alívio foram derramadas. Para mim, um aprendiz em meio a tantas feras do jornalismo, ficou mais uma lição e o orgulho de fazer parte de uma das maiores coberturas da imprensa alagoana. E, claro, só tenho a agradecer a toda a equipe do TNH1 e do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM) por me receber tão bem e pela confiança no meu trabalho.

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Este blog apresenta relatos e informações de minha trajetória profissional. As postagens aqui publicadas destacam trabalhos realizados e trazem momentos marcantes vivenciados desde a graduação em Jornalismo.